Construir a opção de esquerda no Rio Grande
Como pano de fundo das eleições de 2010 está a profunda e prolongada crise do capitalismo. É ela que delimita as movimentações das classes sociais e partidos na atual conjuntura.
O cenário nacional aponta para uma provável polarização entre as candidaturas de Dilma Roussef e José Serra com desfecho ainda imprevisível. A primeira representa o situacionismo sob a hegemonia social-liberal, reforçada pela aliança com setores fisiológicos e conservadores e que, embora, por vezes, apresente propostas de interesse majoritário, encontra-se no fundamental moldada à lógica vigente na sociedade civil e no Estado. Já a segunda, concentra seus ataques ao mundo do trabalho, odiando tudo o que cheira a povo e combatendo quaisquer políticas sociais universais. Contudo, encontra sérias dificuldades para articular um projeto alternativo, até por que os atuais governantes sugaram sua “alma”.
A candidatura de Marina Silva não se apresenta como alternativa, estando no meio do caminho entre Dilma e Serra. Ligou-se a frações do grande capital, e vem contrapondo pela direita as realizações governamentais, inclusive certos acertos oficiais como na política externa. A oposição de esquerda encontra-se fragilizada, seja devido a pouca inserção de massas das organizações que a circundam, seja pela fragmentação política e orgânica que resultou na apresentação de três candidaturas diferentes. Entre estas, Plínio de Arruda Sampaio aparece como o candidato que reúne as melhores possibilidades para combater a oposição de direita, apresentar propostas avançadas de interesse dos trabalhadores e defender posições que acumulem para a unificação das forças populares. Não por acaso, extrapolou os limites da sua organização partidária e recebeu o apoio da Refundação Comunista e da Corrente Comunista Luiz Carlos Prestes.
No Rio Grande do Sul, o cenário eleitoral é fortemente influenciado pela crise política que se abateu sobre o governo estadual. Yeda Crusius conseguiu sobreviver a turbulência e neutralizar as forças oposicionistas, impedindo o processo de impeachment. Contudo, o ônus do desgaste político causado pelas denúncias de corrupção e as mobilizações populares que pediram a sua saída do governo colocam limites consideráveis ao seu desempenho eleitoral e anunciam uma provável derrota no dia 3 de outubro.
No vácuo deixado por Yeda, duas candidaturas tentam abrir espaço e polarizar a contenda eleitoral: José Fogaça e Tarso Genro. Fogaça abertamente tenta apresentar-se como a saída pela direita ao fracasso do governo Yeda, dividindo com esta as maiores frações da classe dominante local. Tarso tenta resgatar a histórica polarização com o PMDB local e o seu nome como o representante da esquerda na disputa. Porém, fica engessado nesse intento na medida em que almeja o apoio de partidos conservadores num eventual segundo turno, o que dificulta substancialmente uma diferenciação essencial em relação às demais candidaturas vinculadas ao campo social-liberal nacionalmente liderado pelo PT.
Seguindo a lógica da oposição de esquerda em nível nacional, aqui novamente foram apresentadas três candidaturas por esse campo: Humberto Carvalho (PCB), Júlio Flores (PSTU) e Pedro Ruas (PSOL). Dentre estas, o representante do PSOL ganhou notoriedade por ter protagonizado as principais denúncias envolvendo o governo estadual, apresentando-se como aquele com maior potencial agregador de massas.
A trajetória pessoal de Pedro Ruas, marcada pela ética e o combate sem trégua às forças reacionárias do nosso Estado, uma moral inabalável como homem de partido, como soldado das forças progressistas, o credenciam para nos representar na disputa do Palácio Piratini. Em 2010 o voto de esquerda no Rio Grande é Pedro Ruas!
Para o Senado, apoiaremos as candidaturas de Berna Menezes e Luiz Carlos Lucas, líderes sindicais com uma trajetória referenciada na defesa dos direitos dos trabalhadores e na luta por uma Universidade em prol dos “de baixo”.
Apoiaremos também Mário San Segundo (Deputado Federal) e Neiva Lazarotto (Deputada Estadual), candidaturas colocadas à esquerda no espectro político gaúcho, comprometidas com as lutas populares e abertas ao diálogo com amplos setores sociais. Candidaturas comprometidas com a construção do socialismo, mas sem caráter meramente propagandista ou estreiteza política. Mário é professor e dirigente sindical, possui uma trajetória de militância marcada pela firmeza e coerência. Iniciou sua militância em Pelotas, no movimento estudantil, tendo sido dirigente do Grêmio Estudantil do CAVG e do DCE da UFPEL. É monitor de formação política, tendo contribuído voluntariamente na realização de cursos para trabalhadores e jovens em todo Estado. Foi dirigente estadual da Juventude Petista e da setorial de Formação Política. Militante comunista, foi um dos principais quadros da tendência Brasil Socialista até seu desligamento do Partido dos Trabalhadores, fruto do transfúgio ideológico ocorrido no partido.
Neiva é vice-presidente do CPERS e foi uma das principais dirigentes das lutas contra o desmonte da educação e pelo impeachment da governadora. Sua batalha incansável pelo serviço público a levou a liderar uma articulação com outros setores sociais (como os vinculados a área da segurança pública) que derrotou o “pacote de bondades” apresentado por Yeda no final de 2009. A trajetória de educadora a fez sensibilizar-se com os problemas que são enfrentados cotidianamente no contexto escolar e apontar propostas efetivas para melhorias no setor. Recentemente apresentou um “Plano Emergencial para a Educação Gaúcha”, que traz medidas importantes para resgatar a qualidade educativa, como o investimento de 10% do PIB e a limitação de alunos por sala de aula visando um ambiente pedagógico mais propício ao aprendizado.
Ambas as candidaturas centram seus ataques a concentração de renda no estado e no país, apoiando a taxação das grandes fortunas e colocando a distribuição dos recursos da produção como o fator principal para o aumento de investimentos nas áreas sociais. Apóiam a proposta de limitação do tamanho da propriedade da terra, instigada através do plebiscito promovido pelos principais movimentos sociais brasileiros. E pretendem colocar os seus mandatos a serviço da organização popular.
Por essas razões, a Refundação Comunista orienta seus militantes a batalharem pela eleição de Mário e Neiva. Convida seus amigos e simpatizantes a cerrarem fileiras em torno dessas candidaturas e iniciar o processo de discussão sobre a constituição de uma frente política de caráter permanente e conteúdo antiimperialista, anti-monopolista e anti-latifundiário, capaz de aglutinar amplos setores da esquerda e reencantar as multidões, hoje desiludidas com o processo político no país.
Socializar para educar é com Mário e Neiva, nossas vozes em defesa dos trabalhadores e na luta pela transformação social!
Porto Alegre, 14 de julho de 2010.
Refundação Comunista
Comitê Estadual do Rio Grande do Sul